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Abordagem

"As pessoas querem se ver representados na televisão"

O ator RJ Mitte, o Walter White Jr. de Breaking Bad será comentarista das Paralimpíadas em um canal de tv na Inglaterra. Ele, que tem paralisia cerebral falou sobre representatividade e maneiras de encarar a vida, com ou sem alguma deficiência.

https://www.facebook.com/quebrandootabu/videos/1190939474295771/

Fonte: Quebrando o Tabu

o ator RJ Mitten, vestindo uma camisa azul e branca xadrez.

Toda pessoa com deficiência é, acima de tudo, uma pessoa

Por Luiz Alexandre Souza Ventura

O Brasil, segundo o Censo IBGE 2010, tem 45,2 milhões de cidadãos que afirmam ter uma deficiência.

É quase 25% da população brasileira. E, com base nesse número, você deveria encontrar pessoas com deficiência em toda esquina, loja, mercado, bar, academia, praça, cinema, teatro, empresa ou em qualquer lugar. Mas isso não acontece porque nosso País ainda não consegue garantir acesso a todos e, por muitos fatores, não entende que a pessoa com deficiência é um cidadão.

Meu trabalho no blog Vencer Limites tem a proposta de apresentar o cidadão com deficiência da forma correta, sem mostrá-lo somente de forma extrema, algo comum na mídia em geral, que destaca a pessoa com deficiência como um 'super-herói' ou como um 'coitado'.

Uso minha experiência pessoal - tenho uma neuropatia chamada Síndrome de Charcot-Marie-Tooth e convivo com atrofias pelo corpo, além de ter uma perda auditiva bilateral - para mostrar que a pessoa com deficiência trabalha, estuda, é um consumidor de produtos e serviços, faz sexo, fica brava, toma cerveja com os amigos, viaja e tem a mesmas características, boas e ruins, de qualquer ser humano.

Defendo que, na verdade, não existem pessoas sem deficiência porque o corpo humano é frágil e precisa de cuidados constantes. Pode ser que hoje você ainda não tenha atingido essa fase da vida, mas certamente, irá vivenciar e compreender essa mudança em algum momento. E essa aceitação sobre as suas fragilidades, sobre as suas deficiências, será fundamental.

Eu, há muito tempo, aceitei que meu corpo não funciona como o esperado. E mantenho atenção aos avisos internos, às dores, aos sentidos menos aguçados, às diferenças. Praticar atividade física, manter uma alimentação de qualidade, evitar excessos, não envenenar meu sistema e, principalmente, compreender minhas limitações, são medidas que garantem meu equilíbrio físico e emocional, que me permitem 'tocar a vida' sem autopiedade, sem 'ciotadismo', sem autocomiseração.

Publicado no jornal "Chave de São Pedro", da Paróquia de São Pedro do Tremembé, na zona norte de São Paulo.

Acessível para quem e qual o papel dos jornalistas na mídia inclusiva

 

Como é ser jornalista com deficiência hoje.

 

Por Leandra Migotto Certeza*

 

Conclui a minha graduação em 1999, em uma das maiores capitais do país, trabalhei mais de 15 anos atuando em mídias segmentadas, e quando realizei uma palestra, dia 21 de outubro de 2016, para futuros comunicadores, em uma das mais importantes universidades, constatei que pouco mudou em relação à imagem das pessoas com deficiência na mídia, e principalmente sobre o processo de acessibilidade e inclusão nas universidades.  

 

Uma das primeiras perguntas dos alunos curso de Lato Sensu foi: “como você vê a inserção profissional de jornalistas com deficiência que não tiveram as mesmas oportunidades do que você”.  Minha resposta já havia sido respondida em uma crônica que escrevi e enviei para eles antes daquela noite na UNESP – Universidade Estadual Paulista de Baru para o Grupo de Pesquisa “Mídia Acessível e Tradução Audiovisual” (MATAV), no módulo de Especialização “Linguagem, Cultura e Mídia”, coordenado pela Prof. Dra. Lucinéa Marcelino Villela.

 

“A maioria das 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil ainda vivem em situação de pobreza, sem nenhum recurso garantido por parte do Estado. Muitas ainda estão trancadas dentro de suas casas, presas em uma cama, sem possibilidade de conquistar seu direito ao trabalho, totalmente marginalizadas. E isso está acontecendo agora. Graças à minha família, tive condições de dispor de um bom tratamento, de fazer faculdade, conquistar autonomia. A maior parte dos jornalistas com deficiência também compartilha desta condição financeira mais estável do que a maioria. Por esse motivo é tão difícil encontramos jornalistas com deficiência que são de origem pobre, simplesmente porque as pessoas de classe social mais baixa ainda não tiveram condição de cursar faculdade. Ou quando tem a oportunidade ainda são barrados nas redações de emissoras de TV, revistas, jornais e rádios, por puro preconceito e discriminação”.

 

Durante duas horas, abordei a importância da mídia inclusiva acessível em nossa sociedade. Contei um pouco da minha trajetória como estudante em escolas totalmente excludentes ou bem pouco inclusivas, e depois como jornalista desde 1998, quando comecei a escrever reportagens sobre variados temas, relacionados ao cotidiano das pessoas com deficiência em mídias segmentadas e alguns trabalhos em mídias abertas. Também fui convidada para ser entrevistada em dois programas da TV UNESP e contar um pouco sobre a minha vida e carreira profissional, e também, sobre o conceito da deficiência como parte da condição humana diversa de todos os seres.

 

Mas esta história começou um mês antes, quando recebi uma mensagem da professora Lucélia me convidando para realizar a atividade. Foi preciso uma ‘força tarefa’ para viabilizar minha viagem e estadia. Apenas um hotel na cidade de Bauru tem só três quartos adaptados para pessoas com deficiência. E mesmo assim, ainda não está totalmente adequado para quem usa cadeira de rodas, e não tem nenhum sinal de acessibilidade para quem não enxerga com os olhos ou não escuta com os ouvidos. Ônibus rodoviários com plataformas elevatórias ou rampas também é outro sonho bem longe de se tornar realidade. Simplesmente não existe nenhum no Brasil inteiro! E ironicamente, todos se orgulham de ter o símbolo internacional de acesso estampado bem grande na janela da frente. Pura propaganda enganosa!

 

Quando eu cheguei na rodoviária de Bauru, não haviam táxis acessíveis, apesar de um taxista afirmar que existe dois na cidade. Antes, na cidade de São Paulo, para ir da minha casa até a rodoviária, utilizei um carro de transporte por aplicativo porque os poucos táxis acessíveis são mais caros e precisam ser agendados com bastante antecedência, e mesmo assim costumam falhar (eu quase perdi um vôo esperando um táxi acessível mais de uma hora). Nas duas voltas, foi a mesma dificuldade. Caso não tivesse a grande ajuda do meu marido e a colaboração dos motoristas, não seria viável realizar este trabalho, pois nem sairia de casa.

 

Mas os ‘perrengues’ estavam só começando... Para subir e descer dos dois ônibus que viajamos, contanto ida e volta, foi preciso pedir ajuda mais uma vez. Agora não apenas para o meu marido, mas para garotos bem fortes que também iriam para o mesmo destino. Sem os braços deles e principalmente, a enorme boa vontade e solidariedade (além da gentileza das esposas, pois os meninos me carregaram no colo), eu não teria embarcado e muito menos conseguido viajar com tranqüilidade, porque foi preciso fazer uma parada estratégica para o xixi.

 

Confesso que é bom despertar a solidariedade nas pessoas, mas se locomover com independência é muito melhor! Simplesmente, não entendo porque todas as inúmeras leis internacionais, nacionais, estaduais e municipais em relação à acessibilidade não são cumpridas pelas empresas de ônibus e muito menos pelas Prefeituras e Estados no Brasil. É uma vergonha! Eu e outros vários profissionais com deficiência pagamos impostos, somos cidadãos, temos direitos e deveres, mas não somos respeitados ainda em pleno século 21.  

 

Será que as mais de 100 matérias que escrevi ao longo da minha carreira, e a maioria delas denúncias, não serviram de nada para conscientizar os governantes e empresários... Creio que muito ainda precisar ser feito para que os profissionais com deficiência, jornalistas ou não, sejam vistos como seres humanos que precisam conseguir viver com autonomia em uma sociedade verdadeiramente inclusiva! O relato de uma estudante que assistiu a minha palestra no auditório pouco acessível da faculdade é a constatação que ainda estamos bem longe do que é necessário para não ser mais preciso falar sobre acessibilidade nas escolas. Ela contou que um aluno com deficiência física usuário de cadeira de rodas, quase não conseguiu participar da cerimônia de formatura porque o auditório tinha escadas. Ele estudou em uma faculdade particular de Bauru, e precisou reivindicar o seu direito que receber o diploma junto com demais colegas!
 

Exatamente como eu fiz em 1996, quando exigi que adaptassem os banheiros da faculdade que me formei; e somente em 1999, um deles foi reformado, mas longe de estar dentro dos padrões internacionais de acessibilidade. Infelizmente, as histórias ainda se repetem com muita freqüência. Por isso, não podemos parar de lutarmos sempre mais por um mundo melhor hoje e amanha! Cada um fazendo a sua parte, porque juntos somos mais fortes! Caminhemos...        

 

*Leandra Migotto Certeza é jornalista por formação, consultora por profissão, e escritora por paixão. Recebeu o Prêmio de Classificação de Excelência no Concurso de "Periodismo y Comunicación Sociedad para Todos" na Colômbia em 2003, pelo artigo sobre educação: "Ser e Estar" (publicado em diversos portais); e o prêmio na categoria pôster sobre o projeto: “Fantasias Caleidoscópicas” (relativo à sexualidade da pessoa com deficiência) durante o "Sexto Congresso Internacional - Prazeres Dês-Organizados Corpos, Direitos e Culturas em Transformação", realizado pela Universidad Cayetano Heredia, em Lima em 2007. 

Seus blogs são: http://leandramigottocerteza.blogspot.com/ 

http://fantasiascaleidoscopicas.blogspot.com/

Fonte: http://leandramigottocerteza.blogspot.ch/2016/10/acessivel-para-quem-e-qual-o-qual-o.html?zx=d51e7f21c3840110

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